Ponde-vos nos caminhos, e vede, e
PERGUNTAI PELAS VEREDAS ANTIGAS
,
qual é o bom caminho, e andai por ele;
e achareis descanso para as vossas almas.
(Jeremias 6:16)

terça-feira, 10 de maio de 2011

A relevância perene de Comenius para a Didática



"Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera. Enfim, demonstraremos todas estas coisas a priori, isto é, derivando-as da própria natureza imutável das coisas, como de uma fonte viva que produz eternos arroios que vão, de novo, reunir-se num único rio; assim estabelecemos um método universal de fundar escolas universais." - Trecho de Didática Magna.

João Amós Comenius é considerado Pai da Didática.
Mas de que adianta tal título se hoje a maioria dos profissionais da educação, como filhos ingratos, o renegam?

Podemos, na citação acima, de sua obra "Didática Magna", enxergar quão grande é a injustiça que lhe fazem hoje, enterrando injustificadamente suas idéias.

A sua perenidade, ou importância permanente está justamente em que ele não queria vislumbrar um método com prazo de validade a vencer, apenas adaptado ao seu tempo, mas fazer uma contribuição didática para toda a humanidade de todos os tempos.

Esse tipo de certeza, estranha ao mundo secular contemporâneo, só pode florescer num pano de fundo cristão, que pressupõe uma grande quantidade de verdades absolutas, a saber, todas aquelas registradas na Escritura Sagrada, ou dedutíveis dela.
A cosmovisão cristã é a única que possui justificativa lógica para sua epistemologia (teoria do conhecimento). Todas as outras precisam fazer saltos de fé irracionais (1).

O pobre secular moderno, mendicante de qualquer certeza, corre de um lado para outro, nem nunca firmar-se em nada, nem construir nada firme, nem na teoria, nem na prática, pois ignora a necessidade de um fundamento de certeza que só as palavras do Deus onisciente e onipotente pode lhe dar, por meio da Revelação divina.

Assim, os descrentes zombam da certeza que Comênio demonstra ao esperar descobrir, da parte de Deus, um método didático universal e infalível, sem notarem que estão cometendo a falácia de projetar sua própria visão de mundo deficiente e distorcida ao antigo pedagogo.

O secularista pensa assim: 'se eu não posso ter certeza de nada, ninguém pode ter também'. Coitado. Tão enredado pelas trevas que não percebe o irracionalismo de sua própria posição. Claro, pois se ele tem certeza que 'não pode ter certeza', ele se auto-refuta, e cai em desespero epistemológico sozinho.

Mas só esse parágrafo citado de Comenius pode bem servir como aperitivo para os desorientados professores de hoje, famintos de sentido e propósito, redescobrirem esse mestre, em sua obra magnífica.

Vejamos o que ele promete:

a) "Um método universal de ensinar tudo a todos" - Quem não quer isso? Poder lidar com qualquer aluno, e qualquer matéria, eficientemente? O seu método se firma no conhecimento da natureza humana, e no modo como esta lida com as novas informações, daí a sua universalidade.

b) "Impossível não conseguir bons resultados" - Eis um otimismo invejável! Ele se permite isso pois está sob firme fundamento. Uma vez conhecendo, da parte de Deus, como funciona o mundo que Deus cria e sustenta, realmente esse prognóstico é possível. Enquanto isso o secularista faz de si mesmo a referência de conhecimento, para sua própria decepção e incerteza permanentes.

c) "Ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros" - A palavra 'prazer', hoje, tem sido aprisionada pelo hedonismo em sensações físicas momentâneas, que nenhum direito teriam de arrogar para si o título de objetivo da vida. Da mesma forma, o conhecimento foi escravizado agora ao pragmatismo: só nos interessa o que for instantaneamente útil, material e prático.
Comenius execrava tais distorções, e promovia o casamento do prazer com o conhecimento. Ou seja, que o crescer em conhecimento deve ser algo prazeroso e virtuoso, e cultivar esse prazer é dever dos professores e privilégio dos alunos. Mas isso não se dará, como pode pensar o secularista, em fazer da aula um parque de diversões sensoriais, mas em descobrir-se o prazer simples de conhecer, o qual será promovido por uma didática que realmente transmita conhecimento com eficácia.

d) "E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera." - Comenius vê a educação completa da pessoa, que inclui o conhecimento, a ética e a religião. Nesse sentido é precursor do holismo moderno, mas não tem nada a ver com ele.

Novamente só uma cosmovisão cristã como a de Comenius pode promover a educação holística coerentemente, pois tem uma base lógica para unificar o conhecimento, e trabalhar com a pessoa inteira: Deus.

Sendo Deus onisciente, Ele sabe a verdade.
Sendo Deus benevolente, Ele nos quer dar a verdade.
Sendo Deus onipotente, Ele é capaz de nos dar a verdade.
Sendo Deus providente, Ele nos vocaciona a transmitir a verdade aos outros.
Sendo Deus santo, Ele ordena que essa transmissão da verdade seja sincera, esforçada, promotora da ética dEle e da fé nEle.

Os secularistas de hoje podem até concordar em uma educação que promova a ética, mas se horrorizam com uma educação que promova a religião.

Ora, mas de onde virá qualquer ética, senão da Autoridade Transcendente que determina o que é certo ou errado?
E de onde virá qualquer conhecimento, senão dAquele que tem todo o conhecimento?
E de onde virá o motivo para educação, senão do propósito divino de revelar a verdade aos homens?

O secularista só poderá ter uma ética vacilante e arbitrária, um conhecimento especulativo e incerto, e uma educação despropositada e pragmática.



Para fora e bem longe desse lamaçal, a didática de Comenius tem o que dizer sobre método, ética, conhecimento e educação; tem coerência lógica para ter certeza do que diz, por isso que, com honestidade e sinceridade, diz alguma coisa, a todos os homens, de todos os tempos.




Agora cabe ao leitor dar a Comenius uma chance e conferir!




O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento - Provérbios 1:7


BIBLIOGRAFIA:

Didática Magna - Comenius
disponível em
http://www.4shared.com/document/QvRAeN0W/Didactica_Magna_-_Comenius.htm


(1) Para uma argumentação mais abrangente sobre a irracionalidade das cosmovisões não-cristãs, ver:

Vincent Cheung - Questões Últimas, disponível em
http://www.monergismo.com/textos/livros/questoes_ultimas_livro_cheung.pdf



Texto de Marcos Lopes.